Varejo prevê ritmo desastroso de vendas no Natal se BC optar por subir juros


Taxa básica de juros se encontra em 10,5% ao ano; patamar deixa crédito mais caro e diminui consumo

Com o objetivo de alcançar a meta de inflação estabelecida pelo governo, o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, indicou que um aumento da Selic está entre as opções consideradas pela instituição. Segundo ele, se necessário, o Banco Central não hesitará em adotar essa medida.

Essa perspectiva de elevação dos juros tem levado a maioria dos analistas do varejo consultados pela CNN a prever um impacto negativo no consumo, especialmente durante o Natal, uma das datas mais importantes para o comércio brasileiro.

Atualmente, a taxa básica de juros está fixada em 10,5% ao ano, após o Comitê de Política Monetária (Copom) decidir, de forma unânime, mantê-la inalterada na última reunião. Esse foi o segundo encontro consecutivo em que a Selic permaneceu congelada.

Claudio Felisoni, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), ressaltou que, apesar da queda nos juros ao comércio nos últimos 12 meses, a situação econômica atual exige uma postura mais rigorosa do Banco Central, possivelmente com um novo aumento da Selic. “Estamos em um cenário econômico complicado, principalmente devido à falta de disciplina fiscal, o que torna necessário um ajuste mais firme”, explicou Felisoni.

Ele alerta que o consumo, já enfraquecido, pode ser ainda mais afetado, especialmente em períodos de alta demanda, como a Black Friday e o Natal. Esses períodos costumam pressionar os preços, e um aumento na Selic poderia agravar essa situação.

As compras de bens duráveis, como automóveis, eletrodomésticos, eletrônicos e móveis, devem ser as mais impactadas, já que esses produtos dependem fortemente do crédito.

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) projeta um aumento de 0,5 ponto percentual na Selic. Felipe Tavares, economista-chefe da CNC, destacou que a principal consequência dessa alta seria o encarecimento do crédito, dificultando as compras pelos consumidores.

A Intenção de Consumo das Famílias (ICF), medida pela CNC, apresentou queda pelo segundo mês consecutivo em agosto. Para Tavares, o Natal deste ano será mais desafiador devido ao atual desequilíbrio fiscal. “Os juros elevados afetam o setor varejista, mas não resolvem a inflação, que não foi causada por uma demanda descontrolada. O varejo acabará pagando o preço por essa situação”, afirmou ele.

Por outro lado, a FecomercioSP acredita que a Selic será mantida no mesmo patamar até o final do ano, apontando para um controle da inflação. Guilherme Dietze, assessor da entidade, comentou que “não há fatores suficientemente fortes para justificar um aumento dos juros, mas também não há espaço para reduzi-los no momento.”

Mesmo que haja um aumento na Selic, Dietze acredita que o impacto seria relativamente pequeno, uma vez que os juros no Brasil já são bastante elevados.